Após os protestos do dia 3 de julho, Cristina de Marco, jornalista e diretora do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina, postou uma foto do protesto em seu instagram pessoal.“Fora Bolsonaro” estava escrito na faixa.
O que ela não esperava era pela reação de Aristides Cimadon, reitor da universidade em que trabalha como jornalista, Unoesc: “Fora da Unoesc, Cristina”, ele escreveu.
“Ele ainda não falou comigo. Não me demitiu e nem me deu explicação sobre isso.”- Disse Cristina, que ficou chocada com a reação dele: “Anteriormente ele só fez algumas piadas comigo (sobre a posição política dela), nada que eu tenha levado à sério.”
Esse professor é, todavia, muito mais do que um “piadista”, tendo sido cotado para Ministro da Educação após a saída de Weintraub (leia mais aqui), e é presidente da ACAFE, entidade social que engloba todas as universidades comunitárias do Estado.
Para se estudar nas universidades comunitárias é necessário pagar, mas o dinheiro é supostamente revertido para melhora dos estabelecimentos de ensino. As universidades comunitárias surgiram entre 1986-1987 graças à pressão de órgãos como a CNBB, entidade católica. No artigo 213 da Constituição Federal reconhece-se as universidades comunitárias, e mais, reconhece-se o direito delas em receber dinheiro público.
Ou seja, nós temos universidades que se dizem “comunitárias”, recebem dinheiro do governo, e que no entanto os estudantes são, em sua maioria, obrigados a pagar pelo ensino.
Dessa forma eles conseguem ter professores e funcionários contratados, que podem ser despedidos a qualquer momento, por isso não tem a mesma independência de um funcionário público, e ao mesmo tempo a universidade em si recebe dinheiro público. É um negócio excelente para aqueles cujo projeto de educação não passa pela liberdade de expressão.
Os estudantes (provedores da universidade), têm “direito” a se manifestar, como podemos ver pelas notas emitidas por dois centros acadêmicos (imagens abaixo).
Ao conversar com alguns acadêmicos da universidade, pudemos constatar críticas similares, como “a UNOESC tem um controle muito grande sobre tudo o que fazemos, para tudo precisamos de autorização.”
Os estudantes disseram que existe uma “censura velada”, “silenciamentos”, tanto que os alunos em questão tiveram medo da retaliação que poderiam sofrer caso falassem publicamente do assunto.
No ofício realizado pelos estudantes de direito, eles relataram o caso de um professor que fez um comentário homofóbico na sua página do Facebook (veja o post abaixo) e a universidade não se posicionou sobre o assunto. Por que o próprio reitor se posicionou contra a posição de Cristina (“Fora Bolsonaro”), e não contra o comentário homofóbico, feito poucos dias antes do post de Cristina?
Os estudantes disseram que existe uma “lógica estrutural colonialista no Oeste de Santa Catarina”, explicitando a dificuldade que sentem em pautar certas questões, como as identitárias, na região.
Não à toa, o Brasil não assinou a declaração anual sobre LGBTIs do Conselho de Direitos Humanos da ONU (leia mais aqui). Esse “aparelhamento ideológico conservador”, como os alunos intitularam, tem por voz maior o presidente da República, cuja atuação pública incentiva comportamentos como o do reitor Aristides Cimadon e do professor Alessandro Pereira. No entanto, como podemos ver, a base política para esse projeto de nação está intrinsecamente ligada à educação, na qual tem uma base forte. Existem muitos “Bolsonaros” que ainda podem levar para frente esse projeto.
Uma resposta
Wow Niice.