HOMENAGEM: Nelson Sargento (1924-2021) “agoniza mas não morre”

Sambista, mangueirense, crioulo, gigante, Nelson Sargento morreu nesta quinta-feira (27), aos 96 anos, por Covid-19
Nelson Sargento, "a mais alta patente do samba" morre no Rio, aos 96 anos
Nelson Sargento, "a mais alta patente do samba" morre no Rio, aos 96 anos

Dizem que o “jovem de grande valor”, citado por Cartola no samba “Fiz por você o que pude”, é Nelson Sargento. Entendo que não há glória maior do que a de ser homenageado em samba pelo divino Cartola. E, com o mesmo sangue na veia, Nelson Sargento seguiu. Com maestria empunhou o pavilhão verde e rosa. Cartola ao final do labor, do astral, com certeza, vive a sorrir.

Por Murilo Mendes – Foco Coletivo

É engraçado, dessas coincidências que a vida nos prega. Dias atrás estava escutando um disco que fazia tempo que não punha para rodar. No disco de estreia do cantor paulista Tuco Pelegrino (“Peso é Peso” – 2010), Nelson dá uma rateada e esquece um pedaço da letra do samba em que responde, justamente, o samba citado acima. No final da gravação, Nelson Sargento pede desculpas e completa: “Tem horas que a emoção trai a gente. Acontece né?!”

Eu poderia falar aqui da importância do Nelson Sargento, “a mais alta patente do samba” para a Mangueira e o samba em geral, exaltar que talvez ele seja o último elo com as primeiras gerações das escolas de samba, falar dos grupos que ele integrou, como Os quatro crioulos (com Paulinho da Viola, Anescarzinho do Salgueiro e Elton Medeiros), ou exaltar que é dele o grande hino do sambista brasileiro. Nelson Sargento é gigante. Tem tanta coisa que daria para falar dele, mas tem horas que a emoção, trai a gente.

Vai na paz meu professor. Com você a gente aprendeu que o morro é um encanto de paisagem, que a gente agoniza, mas não morre, etc. Resistiremos. Como você sempre nos ensinou.

Aqui, o lindo samba do Operário, de Alfredo Português, Cartola e Nelson Sargento:

Samba do Operário

Se o operário soubesse
Reconhecer o valor que tem seu dia
Por certo que valeria
Duas vezes mais o seu salário

Mas como não quer reconhecer
É ele escravo sem ser
De qualquer usurário

Abafa-se a voz do oprimido
Com a dor e o gemido
Não se pode desabafar

Trabalho feito por minha mão
Só encontrei exploração em todo lugar

Assista à homenagem da Mangueira a Nelson Sargento, no seu último aniversário

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