80% dos negros brasileiros vêm das terras de Moïse

"A maioria (inclusive exímios militantes) não sabe disso"
Foto Sato doBrasil

ANIN URASSE, pan-africanista de orientação garveysta, mulherista africana, afro-centrada

As regiões que hoje são denominadas Congo e Angola (principalmente) eram os reinos Kongo, do Ndongo, Luba… Reinos que no século 12 já possuíam prédios de cinco andares (pra vocês terem uma ideia). A derrubada desses reinos a partir do século 16 trará, durante 400 anos, milhares de pessoas escravizadas pro brasil. (Por favor, parem de falar em “tribo”.)

O português “brasileiro” é, na realidade, um português-kimbundu-Kikongo (principalmente), línguas de povos oriundos daquela região. Pra sermos historicamente precisos, deveríamos cantar que “nessa cidade – quase – todo mundo é de Ndandalunda” (com todo respeito a Ọ̀ṣun).

O brasil é uma extensão do Kongo, mas não sabe disso. Ou não quer saber. Você reparou na cor dos assassinos de Moïse? Viram o vídeo? O furor?

Ódio do Kongo. Ódio da África. Um ódio leopoldo (leopoldo II foi um belga, responsável pelo massacre de 6 milhões de congoleses no século 19. Procure saber sobre a relação dele com políticos brankkkos brasileiros).

O Congo é uma das regiões africanas mais ricas em minérios do mundo. Matéria prima pra computador, celular, nave espacial… Sai tudo de lá. Por ser um país rico, o Congo se tornou um inferno. Os europeus só irão descansar quando retirarem a última grama de coltan daquele solo. Eles fomentam sangrentas guerras internas, o que tem obrigado, na atualidade, milhares de irmãos a saírem de lá refugiados.

Ao saírem de lá, os congoleses chegam no brasil e encontram antigos irmãos que não os reconhecem. O brasil odeia a África. Não sabe nada de África. Apesar da sua nítida africanidade. (A brasilidade, minha gente, é uma lobotomia.)

Foto de Sato doBrasil

Em 2018 eu tive a honra de poder traduzir o primeiro livro do brasil com textos, cartas e poemas de Patrice Lumumba (uma produção, como sempre, autônoma). Lumumba foi um pan-africanista que deu a vida pela luta de descolonização do Congo. Inspiração pra Malcolm X, Maya Angelou, Carlos Moore… Ele foi brutalmente assassinado com a participação, inclusive, da ONU. Há uns 2 ou 3 anos, o assassino de Lumumba contou detalhes de sua morte. Lumumba foi queimado em ácido. O assassino – um homem brankkko – devolveu ao Congo um dente que arrancou de Lumumba. Ele não sofreu nenhuma punição.

Na época do livro, pude contar com parcerias importantíssimas, incluindo Zaus Kush, que legendou o filme sobre a vida de Lumumba (inédito no brasil) , e Abisogum Olatunji, que fez uma emocionante pesquisa de fotos.

Tentei organizar lançamentos desse livro em diversos lugares do brasil, mas fui vencida. Dentre alguns problemas que enfrentei, dois coletivos feministas negros universitários – de Goiânia e de Brasília – barraram o lançamento do livro em um dois eventos “negros”. Porque falar de Lumumba, de Congo, de África, de refugiados, em como tudo isso tem a ver com o brasil… não tá na moda. (Moda é falar de bbb, e pegar dinheiro de fundação que esteriliza mulher preta. Mas pagando bem, que mal tem, né?)

Esse texto não tem um objetivo. Ele é, sei lá… um lamento. Um lamento de quem hoje olha ao redor e silencia. Um lamento de quem não acredita em quase mais nada.

Desejo força à família de Moïse. Que o quiosque arda em chamas. Saúde mental pra sobreviver nesse inferno. E África para os africanos.

“Faremos do Congo o centro de iluminação de toda a África.” Eu ainda sonho o sonho de Lumumba.”

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornalistas Livres

COMENTÁRIOS

4 respostas

  1. patético. Pelo visto vocês assim como angolanos não sabe nada da própria história no Brasil. Não sabem como foram divididos. Realmente a pessoa citada nunca se quer entrou em um livro de história sabe por que? Por que a angola suprimiu a história de vocês aparti da Bahia. Bem burro da sua pessoa querer lançar um livro em uma cidade que não tem uma Bienal do livro com um fluxo decente de frequentadores. Se querem quebrar a hegemonia angolana na história tem que pesquisar pra que capitanias os congoleses foram parar. Brasileiros em parte não odeia africanos. So os sulistas. vc sim fez uma lobotomia querendo bancar o letrado vitimista

  2. Por favor. A laqueadura é para todas a mulheres brancas e negras que passaram por 3 cesarianas e mulheres casadas com mais de 3 filhos até a pouco tempo. Para as mães solteiras so com autorização de um familiar e idade minima de 30 anos. Pensa que é fácil uma laqueadura no Brasil? Você precisa correr atrás anos e anos esperando. Bem mentirosa vc senhora.

  3. a maioria dos angolanos foram para as primeiras capitais do Brasil. a primeira sendo a Bahia e depois o Rio de Janeiro. Por isso são mais visados na história. Congoleses ficaram dividos entre sudeste e nordeste. De lá nas revoltas formaram quilombos. Vcs e outras etnias se misturaram e não há realmente um brasileiro que saiba de onde veio seu tataravô.
    Se quer bater de frente e contar sua história você deve vim e começar no Ceará. Não em Brasília.

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