Esse domingo é histórico no Brasil. Além das eleições, o dia 2 de outubro de 2022 também abriga os 30 anos do Massacre do Carandiru, que aconteceu em 1992 nesse mesmo dia. Foram 111 pessoas brutalmente assassinadas em uma chacina da Polícia Militar no pavilhão 9 do Complexo Penitenciário do Carandiru, na zona norte de São Paulo. Além das mortes, milhares de detentos foram torturados e passaram por condições subumanas durante 12 horas de uma operação militar criminosa.
Depois de 3 décadas dos 74 policiais militares condenados, 47 se aposentaram pelo governo paulista, cinco morreram, 11 pediram exoneração, dois foram expulsos da corporação, um foi exonerado e oito não recebem aposentadoria. Vale ressaltar que nenhum dos indiciados foram presos ou sofreram algum tipo de punição judicial. Na verdade, de acordo com o jornal Brasil de Fato, 10 dos criminosos recebem uma aposentadoria maior do que Rodrigo Garcia, atual governador de São Paulo, que recebe em média R$ 23.048,59.
Em meio a impunidade dos assassinos, é preciso relembrar a brutalidade do Massacre. Em entrevista ao G1, Maurício Monteiro, sobrevivente, relata os horrores vividos naquele 2 de outubro. “Na hora que eu vi os policiais da Rota [Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, tropa de elite da PM] entrando eu já falei: ‘vou morrer’. Por conta de ser um preto, grande. Eles [policiais] vieram matando.”, afirma Maurício. De acordo com relatos, os policiais militares chegaram até a fazer apostas sobre “quem mata mais”.
Luiz Carlos Paulino, outro sobrevivente do Massacre do Carandiru, também conta sua traumática experiência. “Na minha cela, ninguém veio a perder a vida, mas passamos por momentos traumáticos que, até hoje, sobrevém ao nosso psicológico. Essa lembrança, que deixou uma cicatriz na alma. Ouvimos disparos de metralhadoras, ações dos próprios policiais pegando os estiletes dos egressos e matando à estiletada os presos que estavam sob a tutela do Estado”, relata Luiz.
Investigações apontam a participação total de 330 policiais militares na operação. Além disso, 126 tiros na cabeça foram registrados pela perícia dos assassinados. Mesmo com tais horrores revelados e o Massacre sendo considerado a maior violação de direitos humanos no pós-ditadura, foi aprovada pela Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados um projeto que visa anistiar os criminosos envolvidos no Massacre do Carandiru. De autoria do deputado Capitão Augusto (PL-SP), o texto coloca que não há um “respaldo constitucional para a condenação desses profissionais sem elementos individualizados que apontem a relação entre os fatos delituosos e a autoria”.
Enquanto famílias ainda não encontram paz para seus parentes mortos e sobreviventes ainda vivem com a memória do Massacre do Carandiru, os policiais envolvidos ganham salários altíssimos e saem completamente impunes dessa violação histórica de direitos humanos no Brasil.