Alline Parreira: sobrevivente de tráfico infantil a dona de negócio nos EUA

Nascida e criada à margem da lei, com muitas feridas e dores, Alline Parreira trilhou um caminho de superação que a levou a romper com o ciclo de miséria. Hoje, ela é uma empreendedora de sucesso nos Estados Unidos, oferecendo soluções de saúde para centenas de norte-americanos por meio de seu negócio de limpeza e cuidado, XPRO CLEANS.

Seguindo os artigos de mulhere em destaque conversamos com Alline Parreira, que compartilhou conosco, do Núcleo Negro dos Jornalistas Livres, um pouco de sua história de vida e resistência. Sua jornada é marcada por determinação e perseverança.

O pequeno negócio local que abriu em 2023 já conquistou centenas de clientes nas proximidades de Harvard, nos EUA, e conta com duas localizações. Aline diz que seu foco é oferecer oportunidades e bem-estar à comunidade, contribuindo para um ambiente mais saudável. Parreira também nos confidenciou os planos para o Brasil e sua classe, veja no texto a seguir.

Da adversidade à prosperidade: A trajetória

A história de Alline Parreira é uma saga de desafios e superações. Originária do sertão de Minas Gerais, ela enfrentou a negação sistêmica de direitos por parte do governo brasileiro, experienciando as dolorosas consequências de ser vítima de tráfico de crianças.

Sua jornada rumo ao empreendedorismo foi uma batalha contra a extrema miséria, repleta de dor e sofrimento. Os traumas e desafios enfrentados, desde a ciência da coisificação até a rejeição familiar, moldaram sua trajetória de maneira profunda.

Embora não possamos especular sobre como seria sua vida com sua família biológica, é evidente que os desafios enfrentados por Alline, como a miserabilidade e o trabalho escravo, não seriam diferentes. Cada obstáculo foi um degrau em sua escalada rumo à superação.

arquivo pessoal

Desafios e superações

Em 2014, Alline Parreira foi selecionada em primeiro lugar para um programa de intercâmbio em Moçambique, patrocinado pelo governo federal brasileiro, ampliando seus horizontes e experiências no cenário internacional.

Enfrentando os desafios da pandemia em 2020, Alline viveu institucionalizada em um abrigo na cidade de Nova York, onde demonstrou seu compromisso com o bem-estar social ao criar o APP Luxury Cart. Essa iniciativa facilitou a distribuição de mais de 10.000 luvas e álcool em gel para moradores de rua na cidade, proporcionando assistência crucial durante tempos difíceis.

De 2019 a 2023, Alline facilitou conexões entre professores negros brasileiros da Coleção Feminismos Plurais, coordenada pela filósofa Djamila Ribeiro, e universidades norte-americanas. Essas colaborações impulsionaram inúmeros projetos impactantes, fortalecendo os laços entre intelectuais afro-brasileiros e instituições acadêmicas internacionais.

Em 2021, Alline Parreira descobriu sua verdadeira mãe por meio de um exame de DNA, desencadeando uma ação por danos morais relacionados ao tráfico de crianças com o aval do poder público. Esse processo está em andamento, e através dele, Alline busca contribuir para que a justiça brasileira compreenda as práticas e diferenças entre o presente e a década de 1990, evidenciando as raízes persistentes da escravização.

O histórico de coisificação de pessoas em Minas Gerais, especialmente nas zonas periféricas como Manga, sua cidade natal, reflete o passado de escravização. Esse sistema utilizava nomes e prenomes como forma de controle e ocultação da propriedade dos senhores de escravos, uma marca que Alline carrega consigo em sua jornada de resiliência e busca por justiça social.

“É um legado da escravidão, entendeu, onde a maioria das meninas pretas, né, das mulheres negras não tem acesso a toda assistência que tem que ter durante o pré-natal, questão de alimentação, questão de saúde, né. Elas não tem essa assistência social, muito diferente do que acontece com as mulheres brancas, né, que já tem todo um apoio, um suporte.

Acredito que segundo os dados do IBGE, 69% das crianças nos abrigos são negras, né? São pretas e pardas, mais de 69%, segundo os dados do IBGE, elas estão lá no abrigo aguardando uma adoção e não encontram ninguém para que sejam adotadas. E por um outro lado, as outras crianças que não estão no abrigo, elas são adotadas de forma ilegal, de forma abrasileira, mas o que na verdade, isso é um tráfico de pessoas.”

arquivo pessoal

Mais do que limpeza, uma missão de impacto social

Atualmente, aos 33 anos e residente em Massachusetts, Alline Parreira é a fundadora de uma empresa de limpeza e cuidado que atende os estados de Massachusetts e Rhode Island. Sua empresa não apenas promove saúde e higiene, mas também oferece oportunidades de renda para minorias em sua comunidade.

Alline também fabrica sua própria linha de luxo de sprays e velas artesanais orgânicas, destinando parte dos lucros para apoiar o Aurora Force Collective. Para Alline, a missão da de sua empresa transcende a limpeza, sendo uma expressão de seu compromisso com o bem-estar social e o crescimento comunitário. Sua empresa, que cresce mais de 300% a cada mês, tem seus colaboradores, clientes e comunidade como pilares fundamentais de seu impacto positivo.

Visando o futuro próximo, Alline planeja seu retorno ao Brasil e busca parcerias para criar uma plataforma que capacite trabalhadoras domésticas a estabelecer e gerenciar seus próprios negócios de limpeza. Essa iniciativa visa romper com o ciclo de miséria que afeta mais de 65% das mulheres brasileiras, promovendo rodas de conversa sobre direitos trabalhistas e igualdade salarial. Além disso, a plataforma oferecerá mentorias, oportunidades e capacitação, visando capacitar essas mulheres para alcançar autonomia financeira, sucesso em seus empreendimentos e melhorar suas condições de vida.

Leia mais: Alline Parreira: sobrevivente de tráfico infantil a dona de negócio nos EUA

COMENTÁRIOS

POSTS RELACIONADOS