Cacica Jamopoty Tupinambá: a primeira da Bahia e a segunda do Brasil

acervo pessoal

Em uma emocionante entrevista ao núcleo negro dos Jornalistas Livres, onde baseamos este artigo, a cacica Jamopoty Tupinambá compartilha sua jornada de vida e luta incansável pela preservação da cultura e a demarcação do território de seu povo. Esta é mais uma entrevista para o enaltecimento de mulheres notáveis brasileiras neste especial de março do Jornalistas Livres. Conheça Cacica Jamopoty Tupinambá: a Primeira da Bahia e a Segunda do Brasil.

Infância em Olivença: Vivências e Desafios

Em 21 de dezembro de 1999, Jamopoty foi eleita a primeira cacique do Povo Tupinambá de Olivença. Mulher, mãe e líder nascida em 1962, Jamopoty é nativa de Olivença e foi criada nesta terra ancestral do Povo Tupinambá. Guiada pela sabedoria de seus ancestrais e pelo apoio de outras lideranças, incluindo um movimento feito por mulheres indígenas, Jamopoty fez parte do Levante que garantiu o reconhecimento do povo.

Os primeiros anos de Jamopoty – nome que significa florescer em tupi – foram repletos de alegrias e dificuldades. Crescendo ao lado de seus dez irmãos em uma família unida, ela recorda com carinho sua infância passada pescando, nadando e vendendo cocos para turistas ao longo das praias de Ubatuba.

imagem: Purki

Desafios Culturais e Transformações

Com a descoberta de águas ricas em minerais e o influxo de turistas em busca de remédios medicinais, Olivença se tornou um centro de desenvolvimento comercial e o turismo começou a moldar sua paisagem. Junto com oportunidades econômicas vieram a exploração e o apagamento cultural da população indígena remanescente, marcando o início de uma longa batalha pela preservação da identidade cultural. Mas apesar dos desafios de viver em um destino turístico com infraestrutura limitada, Jamopoty valoriza a simplicidade e a proximidade de sua criação.

Quando reflete sobre sua educação, Jamopoty destaca a dinâmica de frequentar a única escola em Olivença, onde todos eram considerados família. Sem estradas pavimentadas e acesso limitado à saúde e transporte, a comunidade dependia uns dos outros para apoio. Apesar das dificuldades, a família de Jamopoty de forma ancestral soube utilizar os recursos fornecidos pelo ambiente natural e exercer atividades passadas por gerações como como pesca, agricultura e artesanato tradicional.

Em nossa entrevista, a Cacica ressalta a importância vital de garantir a demarcação e proteção do território ancestral. Ela enfatizou que essa luta não é apenas por si mesma, mas pelas gerações futuras, garantindo-lhes um lugar onde possam florescer e viver em paz.

O Legado de Jamopoty para as Gerações Futuras

Apesar de enfrentar resistência e perseguição de forças externas, incluindo invasões de terras, batalhas legais e ter vivenciado uma prisão injusta e cruel, Jamopoty permanece firme em seu compromisso de defender os direitos indígenas. Organizando reuniões comunitárias e buscando apoio de autoridades governamentais, ela continua a defender a causa de seu povo.
Hoje, os esforços de Jamopoty têm dado frutos, muitos deles na educação. Ela tem defendido a construção de escolas indígenas e um centro cultural que celebram a rica herança do povo Tupinambá. Acredita que desta maneira ela possa conscientizar a comunidade a recuperar sua identidade e reivindicar seus direitos.

Para Jamopoty, a preservação da cultura indígena é fundamental para a identidade e o bem-estar de seu povo. Ela enfatizou a importância de transmitir tradições ancestrais para as gerações mais jovens, garantindo que sua história e sabedoria não se percam no tempo.

acervo pessoal

Demarcação do Território: Batalha pela Preservação Ancestral

Sua bisavó foi uma figura emblemática nessa luta, construindo uma casa de barro e palha como forma de resistir às imposições dos coronéis e preservar a história e a identidade do povo Tupinambá. Desde então, a resistência tornou-se uma constante na vida de Jamopoty e de seu povo, enfrentando perseguições, prisões, o machismo e a invisibilidade que o patriarcado gera para mulheres. Mesmo diante desses desafios, ela mantém viva a esperança e a determinação em alcançar os objetivos de sua comunidade, que incluem a demarcação do território, a portaria declaratória e a desintrusão.

O território Tupinambá de Olivença foi reconhecido e delimitado pela FUNAI em 2009, durante o governo Lula. Este ano é marcado pelo doloroso aniversário de 16 anos de espera e luta pela demarcação. Atualmente, o processo agoniza em tramitação no Ministério da Justiça.

Manto Tupinambá: Rumo ao Futuro de seu Povo

A Cacica também aguarda com ansiedade a chegada do manto Tupinambá, símbolo de força e unidade para seu povo. Este manto tem um significado profundo, especialmente porque sua mãe, Amotara, foi a primeira a reivindicá-lo no Brasil. Foi Amotara quem teve o primeiro contato com a relíquia em maio de 2000, quando o Nationalmuseet a emprestou para a Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, em São Paulo. Depois de visitar a exposição na companhia de um repórter da Folha, Amotara declarou ao jornal: “Somos tupinambás. Queremos o manto de volta.” Jamopoty destaca que o manto será homenageado com grande reverência e respeito, representando a luta e a identidade do povo Tupinambá.

imagem: internet


A história de Jamopoty Tupinambá é um testemunho poderoso da resistência indígena no Brasil. Sua liderança inspiradora e sua dedicação incansável à causa indígena nos lembram da importância de proteger e valorizar a diversidade cultural e os direitos humanos em nosso país.

Por Antonio Isuperio

(*) Antonio Isuperio é arquiteto brasileiro, negro, periférico, lgbt+ que mora em New York. Ativista de direitos humanos por quase 15 anos, é filho de empregada doméstica e graduado em Arquitetura pela Universidade Estadual de Goiás, com MBA em varejo pela FGV- SP. É especialista em Design de Varejo e pesquisa e tendências de futuro e membro do Núcleo Negro do Jornalistas Livres

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