1º Encontro Nacional das Crianças Sem Terrinha marca luta pelos direitos da infância no campo

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra realizou nesta semana o primeiro grande encontro das crianças sem terra de todo o país. O parque da cidade ficou repleto de sonhos, brincadeiras, sorrisos e luta, com crianças dos 24 estados onde o MST é organizado.

A construção do Encontro partiu das próprias crianças, que consolidaram sua identidade de “sem terrinha” ao longo da vivência na luta pela terra. Márcia Ramos, da coordenação nacional do Movimento, explica que as próprias crianças criaram este nome: “elas diziam ‘se meu pai é sem terra, então eu sou um sem terrinha'”

Fotos por: Elitiel Gomes, Juliana Adriano, Juliano Vieira, Luiz Fernando | MST

O projeto do MST para as crianças se faz presente desde o surgimento do Movimento, que entende os sem terrinha como participantes e protagonistas da construção diária em cada acampamento e assentamento. Essa lógica quebra com a ideia de crianças para o “futuro”, porque as mesmas estão construindo o dia a dia de uma infância saudável e feliz. Nesse sentido, o 1º Encontro Nacional das Crianças Sem Terrinha é o resultado de um processo acumulativo dos Encontros de crianças nos estados e da própria vontade delas em produzir um espaço de trocas, aprendizado e infância.

A educação no MST, assim como a terra, é entendida como um direito. Portanto, cada criança também tem o direito de se formar, ter as escolas do campo garantidas e viver com dignidade e liberdade. Entendendo a educação como um ato de amor que projeta para a liberdade, a pedagogia do Encontro misturava atividades lúdicas e formação com eixos de debates que falavam da vida cotidiana das crianças sem terrinha.

Além da vivência, o Encontro também abordou o direito das crianças, com a entrega de um manifesto construído e produzido pelas crianças e a alimentação saudável, tema da plenária do última dia (26).

Sobre alimentação saudável e infância no MST:

Maria Izabel Grein, do setor de educação do MST reforçou que a alimentação que o MST quer é aquela que produz vida, desenvolvimento e saúde, que são direitos de todos e todas. Segundo ela, a importância de discutir o tema no Encontro está diretamente ligada ao fato de as crianças, como participantes da família, terem uma influência muito grande no modo de consumo de comida no núcleo familiar.

Fotos por: Elitiel Gomes, Juliana Adriano, Juliano Vieira, Luiz Fernando | MST

As crianças precisam se alimentar de maneira saudável desde a infância, e são porta-vozes desta mensagem nas famílias. Repensar o modo como as crianças entendem a alimentação é também readequar o núcleo familiar para um novo pensamento ao se alimentar, criando uma real mudança de hábitos.

O 1º Encontro das Crianças Sem Terrinha também trabalhou a percepção de que todo alimento deveria ser saudável, mas tem-se produzido mercadoria, e não alimento de verdade. Esse consumo de veneno está ligado ao agronegócio e à semente transgênica, que, segundo Maria Izabel, “produzem um alimento que tem gosto, as pessoas comem, mas não alimenta”.

Ao longo dos seus 34 anos de história, o MST vem pautando a necessidade de pensar um modelo de produção sustentável que dê qualidade de vida a adultos e crianças. “Produzir agroecologicamente é produzir com semente crioulas, de uma forma natural, garantindo o camponês como guardião de sementes e a população como consumidora de alimento saudável de verdade”

Pablo Rodrigues, 12 anos, sem terrinha do Acampamento Irmã Dorothy, na Bahia, considera a alimentação saudável como um direito. “No Brasil, a gente compra mais agrotóxicos do que qualquer outro país do mundo. Teve uma época que era proibido, mas agora é liberado, e isso envenena a nossa comida e tira nosso direito”, explica ele.

Sobre educação e infância no MST:

A concepção emancipadora de educação está presente em todas as áreas do Movimento, e no Encontro não poderia ser diferente. Ao longo dos 4 dias de Encontro, as crianças discutiram sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, e falaram sobre as Escolas do Campo, que foram conquistadas com muita luta nos acampamentos e assentamentos e tem sido ameaçadas de fechamento. O debate girou em torno da importância de adequar a sala de aula ao contexto de vida dos sem terrinha, explorando temas para além dos tradicionais e discutindo agroecologia, educação e direitos.

É exatamente pelo amor e pertença à terra que as crianças reivindicam estudar nas suas áreas, e também por sofrerem preconceito nas escolas por sua origem e, muitas vezes, terem que percorrer muitos quilômetros para chegar até a sala de aula. No dia (25), as crianças fizeram um passeio pedagógico por Brasília, e foram até o MEC entregar um manifesto que dizia de quem elas eram e quais direitos delas estão sendo violados.

Confira o Manifesto:

 

Fotos por: Elitiel Gomes, Juliana Adriano, Juliano Vieira, Luiz Fernando | MST

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

COMENTÁRIOS

POSTS RELACIONADOS

Provão Paulista: oportunidade ou engodo?

Diante das desigualdades educacionais históricas no Brasil, tentativas de ampliar o número de estudantes egressos da rede pública no ensino superior é louvável. Mas não seria mais eficiente se o governo do Estado de São Paulo aumentasse as vagas destinadas ao testado e experimentado Enem, ao invés de tirar da cartola mais um exame eivado de contradições?