11h15, São Bernardo do Campo, 29 de agosto de 2015, corações pulsantes, olhos atentos. Mujica está conosco!

 

Corredores, portas, entradas e saídas confundem jornalistas e fanáticos, todos querem um momento exclusivo com o grande velhinho e ex-presidente uruguaio, Pepe Mujica.

11h25 — Um grupo de crianças toca violinos e a entrada de Pepe é anunciada. Olhos estáticos, mãos tremulantes, sorrisos e um clima misto de felicidade e alívio, dominam o ambiente, pois para as mais de 2 mil pessoas presentes, e as mais de 3 mil que assistiam a transmissão via web, direto do auditório Ruth Cardoso, as palavras de Pepe poderiam ser sim, o acalento para o momento crítico vivido pelo Brasil. O ex-presidente Lula também está no palco. Ele e Pepe cochicham antes de começar o debate “A importância da participação cidadã na América Latina”.

Inúmeros aplausos, fãs e a mídia tradicional transformam o lugar em um programa de auditório. O sentimento é de unidade e alegria.

Foto: Helio Carlos Mello

11h29 — Aos 80 anos, o carismático e autêntico Mujica não tenta falar em portunhol e diz: “No hay caminho para trás. No hay democracia sin partidos, ellos son los colectivos sociales. Nadie es más que nadie. No hay lugar para monarquia” Ou seja, “Não há caminho para trás. Não há democracia sem partidos, eles são os coletivos sociais. Ninguém é mais que ninguém. Não há lugar para monarquia”.

11h36 — Mujica insiste em outras formas de intercâmbio: “Nem tudo é produto. Os grandes meios não vão estar com a gente, porque são grandes empresas. Eu sou campesino. Há uma tremenda solidão no meio de uma multidão. A melhor coisa que existe é a intimidade humana”.

Apesar da atividade querer implementar um “tom” democrático, a entrada só era permitida com pulseiras de acesso a plateia, o que dificultou a entrada de diversos admiradores do ex-presidente Uruguaio.

Além da visita e diálogo com Pepe, a ação teve como objetivo o lançamento de um foto-livro de mais de 300 páginas, muito parecido com a qualidade gráfica de livros do fotógrafo Sebastião Salgado, intitulado: “Protagonismo e Participação em São Bernardo do Campo” — Olhares pelo Caleidoscópio, de Nilza Aparecida de Oliveira, Victor Huerta Arroyo e Sérgio Vital e Silva. Com um detalhe: distribuição gratuita para aqueles que estavam no espaço. Provando a majestade e altivez econômica da cidade de São Bernardo.

12h — Pepe trás nostalgia e conselhos. Faz um discurso para recordar o que as sociedades latinas já viveram e denota que os “ativistas de agora”, devem tomar a tônica da paciência e da militância para uma preparação acerca de uma nova fase mais difícil do que a estamos vivendo, para ele, estamos próximos de um caos com ignorância coletiva completa. No Brasil, esse caos já existe.

“Como América Latina, um bloco regional, como unidade e coletivo temos que nos ligar a favor dela e quebrar as barreiras.”

Fotos: Helio Carlos Mello

“Por suerte me voy pronto”, Por sorte, vou embora logo”, finalizou Mujica.

12h45 — Um mundo hipócrita se instala e chega a hora da entrega do livro. Pepe deixa de ser o centro das atenções e o foto-livro entra em cena. A distribuição começa como nos tempos das filas da merenda da escola. Tempos Modernos.

12h50 — Fim. Pepe com sua humilde e sabedoria se mostra feliz, porém aliviado fisicamente. Parece confuso com todo aquele cenário e sorri como um estrangeiro que vem passar o carnaval no Brasil.

Fica a lembrança de um grande mestre que ultrapassou as barreiras da política comum e transformou os sonhos de muita gente em um manifesto de liberdade. Não precisamos priorizar os orçamentos, recursos e organogramas. A vida, no final das contas, pode ser mais simples.

Foto: Helio Carlos Mello

 

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